Arquivo mensal: março 2020

A última mensagem

De alguma forma, momentos difíceis como o luto, dispõem da eficiência de unir as pessoas. Foi o que ocorreu entre nós nesses últimos dias. Embora amargos, culminou no fortalecimento de nossa afinidade já tão bem estabelecida anteriormente. Devo, no entanto, admitir que tenho fracassado na busca de palavras capazes de exprimir as dores de um velório e de um enterro.

Chocou-me a forma como no primeiro, o corpo tão bem zelado por nós em vida, transforma-se em um objeto impotente e rodeado de compaixão. A beleza tão desejada e poderosa em vida é convertida em palidez e inércia. É o fim definitivo do vigor da pele e do movimento dos olhos outrora abertos e ávidos. Diz-se adeus às melhores roupas jamais cogitadas para tal ocasião, coladas sob peito imóvel. A cama em que está deitado costumam temer.

O repouso do corpo causa dor; a maior das dores, talvez? Eu não sei. Certa estou, no entanto, de algo: seu silêncio tem muito a dizer. Lá, no velório, a despedida finalmente faz-se valer e à vista de todos, o corpo admite sua pequenez. Quem diria que a última mensagem não viria de lábios? Cogitou algum dia declarar o indesejável? “Fraqueza!”, “Insuficiência!” – grita na mais alta voz, embora lágrimas de outrem revelem-se muito mais audíveis.

Perdeu-se o que jamais se ganha novamente. Ah!, e o que fica? O ressoar de corações rompidos em cacos? Grandes feridas agudas que serão, porventura, algum dia tampadas? É tarde e já não há mais escolhas a serem feitas. Sua voz será agora uma lembrança somente.

 

 

 

Autora: Bruna S. Furlan
Escrito entre janeiro e março/2020